Coronavírus: uma perspectiva psicológica
- Camila Alkmim Bianco
- Mar 31, 2020
- 3 min read
Updated: Apr 2, 2020
A dinâmica da Psicologia Analítica trabalha a dimensão simbólica do ser, contextualizando as situações como possibilidades simbólicas, metafóricas, com o intuito de ampliarmos as potencialidades criativas.
Deste modo, o advento do (COVID-19) pode nos possibilitar a adoção de um olhar metafórico. O medo ganha protagonismo nesse momento, uma vez que há a insegurança do imprevisto e a sensação descontrole. Contudo merece ser ponderada uma vez que em excesso paralisa e em sua ausência desumaniza as circunstâncias.

O Dr Waldemar M Filho (diretor do Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa) propõe ressaltar 3 grandes ondas psiquiátricas ao longo da história que provocaram evolução humana, em última instância. A primeira onda ocorreu por volta de 1800 em que a histeria - tanto individuais quanto coletivas - provocava grandes comoções. Naquele momento havia uma necessidade humana latente para incluir o feminino, levando em conta que o obscurantismo tirava da mulher a liberdade absoluta. Após a inclusão da figura de Maria - uma das alucinações coletivas de maior impacto social - e o reconhecimento da função da mesma como quarto elemento na trindade Pai-Filho-Espírito Santo, o movimento da histeria se amenizou. Enquanto processo de evolução, cumpriu seu papel. Na segunda onda surge a esquizofrenia (anteriormente nomeada de demência precoce) trazendo a possibilidade da relativização das polaridades. Há nesse aspecto o reconhecimento da potencialidade benéfica do sombrio e a aceitação dos erros, defeitos e equívocos humanos gerais. Quando o relativismo ganha espaço, as esquizofrenias diminuem expressivamente. Na terceira onda psiquiátrica surge, então, a depressão, que traz a possibilidade de busca interior, voltando-se para o interno, para o auto-conhecimento, podendo representar o resgate do sagrado, o reconhecimento da alma e do sagrado dentro de si mesmo.
Nesse período atual há a necessidade de recolhimento pela quarentena, o que nos incita a lidar com a solitude. Esse pode ser visto como a função transcendente da quarentena. O sentido pra solitude é dado através da relação e da troca com o outro. O professor Dr Waldemar M Filho propõe a “solitude solidária” onde os corpos estão distances, mas as almas podem se aproximar. Isso pode ser possível na medida em que há a troca, a comunicação com o outro.
Nesse sentido, está nos sendo imposto pelas circunstâncias que haja um distanciamento do mundo externo - e, portanto, da Persona - e uma aproximação pessoal em relação a nossas próprias almas, nosso contato com o mundo interno. Podemos abordar toda essa situação como uma oportunidade criativa e de aproximação, de ressignificar as relações e a sociedade. Nesse momento, mais do que em qualquer outro, se evidencia a necessidade implícita de cuidar de si para cuidar do outro, o que em última instância deve nos levar ao raciocínio de perceber que não há território, domínio, ou controle. Essa crise pode, então, ser vista como uma oportunidade de nos unirmos globalmente em favor da humanidade e em resgate da alma, superando a materialidade, o desgaste, o consumismo, a destruição. O coronavírus (COVID-19) pode ser compreendido como uma tentativa biológica de fazer com que as pessoas se reconheçam a si mesmas. Nessa perspectiva, os ganhos secundários do vírus são muitos, dentre eles o resgate da dimensão humana como dependente de tudo que existe no plano biológico (nesse sentido, não há fronteiras), a questão da finitude, a importância da solidariedade.
Nesse momento é de suma importância cuidarmos de nosso sistema imunológico uma vez que nossa única alternativa de superar tudo isso é PASSANDO por isso. Assim é mais importante do que nunca nos atentarmos à nossa saúde mental, bem-estar, alimentação, qualidade do sono, filtrar nossos pensamentos na medida do possível, dentre outros. Espera-se que quando tudo isso se encerrar possamos de alguma maneira resgatar e e ressignificar uma visão mais humanitária, com mais consciência ecológica, e mais minimalista, lembrando que somos uma única unidade humana viva- como a ideia de Gaia que na mitologia grega representa a Mãe-Terra como elemento primordial.
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